Fachada da Natividade e Cripta da Sagrada Família

A obra-prima de Gaudí, o expoente máximo da arquitectura modernista Catalã.

"A igreja expiatória da Sagrada Família é feita pelas pessoas, e é o espelho das mesmas. É um trabalho que está nas mãos de Deus e na vontade do povo."
Eusebí Gaudí
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Coordenadas GPS - N41 24 19.8 E2 10 30.2
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O projecto foi iniciado em 1882 e assumido por Gaudí em 1883, quando tinha 31 anos de idade, dedicando-lhe os seus últimos 40 anos de vida, os últimos quinze de forma exclusiva. A construção, que deveria ter sido financiada, principalmente, à base de doações dos habitantes da cidade, foi suspensa em 1936, devido à Guerra Civil Espanhola.

A construção do templo expiatório da Sagrada Família teve início no dia 19 de Março de 1882, um projecto diocesano, do arquitecto Francisco de Paul del Villar (1828-1901). No final de 1883, o projecto foi entregue a Gaudí, que o levou até à sua morte, em 1926. Posteriormente, vários arquitectos têm continuado o trabalho, após a ideia original de Gaudí.

O edifício está localizado na baixa de Barcelona, e, ao longo dos anos, tornou-se um dos símbolos mais universais da identidade da cidade e do país. É visitado anualmente por milhões de pessoas e muitos são também aqueles que estudam o seu conteúdo arquitectónico e religioso.

O Templo foi sempre expiatório, ou seja, desde os seus primórdios, foi construído a partir de doações. A construção continua e pode terminar no primeiro terço do século XXI.

O Templo deverá ter três grandes fachadas: a Fachada da Natividade, quase terminada por Gaudí ainda em vida, a Fachada da Paixão, que foi iniciada em 1952, e a Fachada da Glória, ainda por realizar. O seu risco deve-se ao génio criativo de Gaudí, que aplica os ideais da Arte Nova à arquitectura religiosa. O artista está ligado a uma vertente mais arquitectónica e orgânica da Arte Nova, procurando captar todos os elementos naturais de uma forma muito precisa. Aqui todos os pormenores são imbuídos de simbolismo. A decoração inspira-se em elementos neogóticos (agulhas das torres em forma de espigas de milho, rendilhado nas bandeiras dos vãos), elementos barrocos (as estruturas funcionais passam a ser meramente decorativas) e elementos mouriscos (utilização de cor e do tijolo vidrado). Mas a grande contribuição de Gaudí foi no campo da estática, com a suspensão dos contrafortes através de um hábil sistema de descarga de forças. Assim, o peso da abóbada central (de forma hiperbólica côncava) já não se distribuí sob forma de pressão descendente e lateral, como acontecia na arquitectura gótica. A utilização de superfícies parabólicas e hiperbólicas resulta no escoramento quase vertical das colunas, que, por estarem levemente inclinadas, recebem a restante pressão lateral. Para termos uma ideia da grandeza do projecto da Sagrada Família, basta referir que tem 12 campanários de 100 m de altura cada, 5 cúpulas e um coro de 14 m de altura para 2200 cantores, que podem ser ouvidos no interior e no exterior.

O simbolismo cristão está presente em toda a obra de Gaudí, mas o exemplo mais evidente da sua aplicação é o Templo, que cenograficamente apresenta a vida de Jesus e a história da fé.

Com esse objectivo, o templo foi construído ao longo dos anos como ideia original de Gaudí, que encenou a arquitectura da igreja católica com Jesus e os fiéis, representa da por Maria, os Apóstolos e os Santos. Isto é visível nos dezoito sinos, que simbolizam, Jesus, a Virgem, os quatro Evangelistas e os dezoito Apóstolos, nas três fachadas que representam a vida humana de Jesus (desde o nascimento até à morte), e no interior, sugerindo a Jerusalém celeste, onde uma série de colunas, dedicadas a cidades e continentes cristãos, representam os Apóstolos.

Templo expiatório da Sagrada Família, e contrariamente ao que os arquitectos eram tradicionalmente, Gaudí não usou apenas elementos decorativos para representar a liturgia, mas foi mais longe, e usou-os na sua estrutura arquitectónica. Ou seja, para expressar os símbolos do cristianismo, usou os elementos nos acabamentos da obra.

A sagrada Família pode ser vista como uma "Bíblia" em pedra, devido ao grande número de símbolos católicos que Gaudí queria expressar nas suas fachadas. Eles vão desde Adão e Eva aos Doze Apóstolos, através de todos os episódios da vida de Jesus e todos os símbolos do Antigo Testamento. É um monumento que serve para ler o credo católico.

Mas a importância deste edifício inacabado não é apenas religioso, pode ser considerado o "livro de Gaudí", porque é a explicação mais clara de como construir. Neste trabalho, Gaudí aplica todas as soluções estruturais que foram estudadas e testadas mais de uma vez nas obras que construiu durante a vida. Estas soluções eram, para ele, simples correcções para os erros que tinha cometido nos estilos anteriores. Gaudí tinha aprendido muito, observando a natureza e as suas formas, e simplesmente tentava imitá-la. A estrutura do templo é formada à base de colunas inclinadas, com abundantes ramificações na parte superior, cujos ramos seguram pequenos pedaços da abóbada hipérbole, produzindo o efeito de uma floresta.

Nos últimos quinze anos da sua vida, Gaudí dedicou-se, em exclusivo, à construção do Templo, numa dedicação tal que o levou, inclusive, a montar no estaleiro a sua residência provisória. Foi também perto do Templo que acabou por morrer, em 1926, atropelado, aos 74 anos de idade.

Antoni Gaudí acompanhou as fases iniciais dos trabalhos, mas não chegou a ver erigidas as imponentes fachadas da igreja - as Fachadas da Glória e da Paixão. Só oito dos doze campanários idealizados para as fachadas estão actualmente concluídos. Têm mais de 100 m cada um, e são dedicados aos Apóstolos. Falta ainda construir o zimbório central (de 170 m) em honra de Jesus Cristo, a torre da Virgem Maria e a torre dos quatro Evangelistas.

Com tanta obra por concluir, sobra apenas uma certeza: nada do que já foi construído surgiu do acaso ou não mereceu um tratamento especial. Entrar na nave principal desta catedral, mesmo em obras, é como entrar numa floresta e mergulhar nas entranhas da Natureza.

Em 2005, a Unesco incluiu a Cripta e a Fachada da Natividade como património Mundial da Humanidade.


A Cripta


Foi começada em 1882, segundo o projecto de Francisco del Vilar. Quando Gaudí tomou conta da obra, em 3 de Novembro de 1883, transformou os pilares, acrescentando-lhes capitéis com motivos naturalistas, elevou a abóbada e rodeou a cripta de um fosso para ter iluminação e ventilação directas. Os primeiros planos de Gaudí para a Sagrada Família foram da capela de São José, construída entre 1884 e 1885, data da celebração da primeira missa. As obras da cripta prolongar-se-iam até 1891.

A cripta é composta por sete capelas dedicadas à Sagrada Família: São José, o Sagrado Coração, a Imaculada Conceição, São Joaquim, Santa Ana, São João Batista e a capela de Santa Isabel e São Zacarias. Estão dispostas em forma de rotunda, frente à qual se situam outras cinco capelas em linha recta: a central, que alberga o altar, ladeada pelas capelas de Nossa Senhora do Carmo (onde está enterrado Gaudí), de Jesus Cristo, de Nossa Senhora de Montserrat e do Santo Cristo.

A cripta da Sagrada Família sofreu danos em 21 de Julho de 1936, num incêndio durante a Guerra Civil Espanhola, sendo destruídos numerosos planos, maquetas e documentos deixados por Gaudí. Desde 1930, a cripta é utilizada como igreja paroquial, até à finalização do Templo.




A Fachada da Natividade


Dedicada ao nascimento de Jesus, esta fachada apresenta uma decoração exultante, onde todos os elementos são evocadores da vida. Centra-se na faceta mais humana e familiar de Jesus, com uma ampla abundância populares, como ferramentas e animais domésticos. Está dividida em três pórticos, dedicados às virtudes teológicas: da Esperança à esquerda, da Fé à direita, e a da Caridade ao centro, com a porta de Jesus e terminada pela árvore da Vida, A fachada culmina com as torres campanário, dedicadas a São Matias, São Judas, São Simão e São Barnabé. Foi construída entre 1894 e 1930. A escultura é de Carles Mani, Llorenç Matamala e Joan Matamala.

Os pórticos estão separados por duas grandes colunas: a de José, entre o pórtico da Esperança e o da Caridade, e a de Maria, entre o pórtico da Caridade e o da Fé. Na base das colunas, está representada uma tartaruga (uma de terra e uma de mar), como símbolo do inalterável do tempo. Os fustes erguem-se em espiral, enquanto os capitéis são em forma de folhas de palmeira, das quais surgem cachos de tâmaras cobertas de neve (pelo Inverno, data de nascimento de Jesus), que dão apoio a dois anjos com trompetes que anunciam o Nascimento de Jesus. Em contraste com as tartarugas, de ambos os lados da fachada, situam-se camaleões, símbolos da mudança.

Gaudí, escolheu esta fachada por ser, em sua opinião, a que poderia ser mais atractiva para o público, fomentando assim a continuação da obra após a sua morte.

"Se em vez de fazer esta fachada decorada, ornamentada, turgente, começasse pela da Paixão, dura, pelada, como feita de ossos, as pessoas ter-se-iam retraído."
Antoni Gaudí
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"Gaudí queria que a sua obra fosse continuada por outros, de acordo com o que ele imaginava e penso que o seu desejo deve ser respeitado."
Jordi Bonet, actual arquitecto da Sagrada Família
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